domingo, 8 de fevereiro de 2009

O Terrorismo contra os Palestinos

O TERRORISMO CONTRA OS PALESTINOS

Omar Nasser Filho*

Para entender as causas do morticínio de tantos civis na Faixa de Gaza, é preciso conhecer os fundamentos da constituição do estado de Israel. No final do século XIX e início do século XX, um grupo de intelectuais europeus de origem judaica iniciou um movimento que propugnava a criação de uma unidade política que abrigasse os judeus de todo o mundo. Encabeçado pelo jornalista húngaro Theodor Herzl, deu-se a este movimento o nome de “sionismo”, do termo hebraico T’zion, em referência a um dos montes situados na cidade de Jerusalém.
Os fundamentos do sionismo foram reunidos no livro “O Estado Judeu”, publicado por Herzl em 1896. De início, os integrantes do movimento sionista não tinham uma idéia clara de onde seria constituído este novo país. Então, no 1º Congresso Sionista, que aconteceu em 1897 na cidade da Basiléia, na Suíça, venceu a tese de que ele deveria ser estabelecido na Palestina.
O grande problema é que o território não era um vazio demográfico. A Palestina é habitada, desde há pelo menos dez mil anos, por uma grande quantidade de povos, um dos quais os filisteus, aos quais o Antigo Testamento faz inúmeras referências. Pois os filisteus são os antepassados do povo que atualmente, em árabe, é chamado de filastini, ou seja, “palestino”.
Dá-se início, então, já a partir das duas primeiras décadas do século XX, à colonização judaica da Palestina. À medida em que o movimento sionista se estrutura, começa a receber recursos de empresários judeus da Europa, como os Rotschild, recursos estes que são utilizados para criar o Fundo Nacional Judaico e o Banco Anglo-Palestino. Estas agências financiam a entrada sorrateira de emigrantes judeus na Palestina e sua fixação no território.
Contudo, os próceres do sionismo – Ze’ev Jabotinski, David Ben-Gurion, Avraham Stern, Menachem Begin, entre outros –percebem que a população árabe, que já estava fixada ali desde tempos imemoriais, não aceitaria pacificamente a invasão e ocupação do seu território. Então, tem início a formação de células terroristas judaicas, como Hagannah, Irgun Zwei Leumi (Irgun), Lohamei Herut Israel (Lehi), Gangue Stern e Palmach.
Os crimes cometidos por estas células terroristas judaicas contra os palestinos, especialmente nas décadas de 1930 e 1940, foram inúmeros. Elas atacavam as aldeias árabes, matando indiscriminadamente homens, mulheres, crianças e jovens. O objetivo: provocar o pânico da população árabe, desencadeando sua emigração em massa, abrindo, dessa maneira, por meio da violência, espaço para a ocupação judaica do território.
Aqui, portanto, torna-se necessário assinalar um aspecto fundamental para o entendimento do que acontece, hoje, em Gaza: os palestinos, há pelo menos 80 anos, vêm lutando contra o terrorismo perpetrado pelos sionistas, que, vindos de pontos distantes da Europa, América, Ásia e África, invadiram sua pátria, mataram sua gente, tomaram suas casas e, sobre os escombros das vilas e dos cadáveres de milhares de palestinos, construíram o que hoje acostumou-se denominar “estado de Israel”.
O solene desprezo dos sionistas pela população árabe palestina, manifestada de maneira explícita pelos líderes do movimento e, na prática, pelo terrorismo judaico das décadas de 1920, 1930 e 1940, é uma característica indelével da ideologia nacionalista judaica e expressa-se, hoje, pelo terrorismo de estado perpetrado por Israel. O que o estado de Israel faz atualmente, na Palestina, é a execução de uma clara campanha de limpeza étnica, cujas diretrizes foram estabelecidas ao longo da consolidação do movimento sionista.
Ora, se há um invasor, há um invadido e este, de acordo com as normas do Direito Internacional, tem o direito de se defender. O Hamas, partido que venceu democraticamente as eleições palestinas de 2006 em sufrágio universal acompanhado por observadores internacionais, é a expressão política deste direito.
A Resistência Islâmica em Gaza é a voz desesperada de um povo que há 80 anos luta pelo seu direito de auto-determinação e pelo anseio de viver em liberdade na sua própria terra. Os bloqueios contínuos de Israel à Faixa de Gaza, dos quais o mais feroz teve início um ano e meio antes do ataque de janeiro deste ano, fizeram do território o maior campo de concentração a céu aberto do mundo. Ali, 1,5 milhão de almas ocupam uma área de aproximadamente 360 quilômetros quadrados.
É preciso que as pessoas de bem denunciem os crimes cometidos pelo estado de Israel. É preciso que a opinião pública esteja atenta à manipulação que a grande mídia sionista faz em relação ao conflito no Oriente Médio. É preciso conhecer a história, para não voltar a repeti-la no que ela tem de mais cruel.

* Omar Nasser Filho é jornalista, economista e Mestre em História pela UFPR.