quarta-feira, 18 de março de 2009

Arquitetura Árabe

A Herança da Arquitetura Islâmica – Os Muxarabis

Por entre as treliças de madeira pode-se ver a rua, mas não a beleza da mulher islâmica, preservada por trás dos muxarabis. È por meio deles, que a cultura islâmica encontrou uma solução que permite a ventilação e iluminação, mantendo a privacidade e valorizando os seus bens culturais. Essa herança moura conquistou mais do que o mundo árabe, estendendo-se a outras culturas. Com o mesmo uso ou às vezes utilizado como elemento decorativo, os muxarabis espalharam-se pelo mundo. Exemplos dessa disseminação da arquitetura árabe podemos ver aqui mesmo no Brasil. A arquitetura colonial brasileira usou e abusou dos muxarabis, não somente como balcões (guarda-corpos), mas também nas janelas privilegiando a idéia de ver sem ser visto. No entanto, não é somente a arquitetura colonial que se beneficiou desse artifício interessante de iluminação. Na arquitetura de Lina Bo Bardi (arquiteta italiana que viveu e trabalhou muito tempo no Brasil), podemos ver o uso desse elemento. O SESC Pompéia, em São Paulo, por exemplo, possui em suas janelas amorfas, muxarabis vermelhos de correr, que permitem esse trabalho da luz quando desejado. Já na arquitetura de Márcio Kogan, arquiteto paulista, vemos a idéia de muxarabi utilizado com uma estética um pouco diferenciada pelo material escolhido, trabalhando a transparência e integração do ambiente interno e externo, mas mantendo ainda a privacidade que uma residência exige.

Muitos elementos ou idéias são, na arquitetura, adaptados ao clima, função, cultura ou é feita uma releitura adequando às novas tecnologias. Esse é o caso do Instituto do Mundo Árabe, em Paris. Na obra em questão, projetada pelo arquiteto francês Jean Nouvel, a releitura do muxarabi foi essencial devido a diferença drástica entre o clima francês e o dos países do mundo árabe. Para isso, a nova leitura e interpretação do muxarabi são feitas de modo a filtrar a iluminação através de diafragmas de diversas formas e tamanhos, controlados por células fotossensíveis, apresentando a típica iluminação que se costuma ver na arquitetura islâmica. Ao mesmo tempo, adequou a técnica árabe à nova tecnologia trazendo esse ar contemporâneo e integrando e mesclando a cultura árabe com a cultura européia.

Com a imigração de árabes para diversas partes do mundo, não é só na arquitetura que elementos arquitetônicos árabes se refletem. A cantora Eleonora Falcone, brasileira, até compôs uma canção que menciona o muxarabi, relatando a participação e a vivência dele no seu dia a dia, incorporando dessa forma, mais uma vez, parte da cultura islâmica que se prolifera a cada dia mais na nossa cultura, seja com elementos arquitetônicos, especiarias que complementam nossa culinária, ou qualquer outro artifício que juntos enriquecem com muito orgulho a cultura brasileira, mostrando que essa globalização, que permite um intercâmbio entre hábitos e experiências diferentes entre nações, é muito preciosa.










































Arquiteta e Urbanista Lilian de Oliveira
Graduada pela Universidade Mackenzie



Muxarabi

Uma moça na janela
Olha tudo que passa por ela
Passa a noite passa o dia
Passa o sopro de maresia
Daqui de dentro de mim
Quero te ver passar por mim
Pela janela em mim
E no meu jardim
Sorrir pra mim
Fogo de estrelas
Treliças em mim
Vejo ele não me vê
Do meu muxarabi
Destrançar os cabelos
Mergulhar no vento em ti em mim
A carambola e o sapoti
Muxarabi
Sombra e água fresca
Muxarabi
Dormir enfimVoz .
Eleonora Falcone


Imagens:
1 e 2 - Al-Hambra, Granada, Espanha; 3 – Medersa Ben Youssef;
4 – Olinda; 5 –Sesc Pompéia, Lina Bo Bardi, SP; 6 – Casa du Plessis, Márcio Kogan, SP; 7,8 e 9 – Instituto do Mundo Árabe, Jean Nouvel, Paris.

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