23 de Julho – a Revolução que marcou o Egito
A Organização Revolucionária dos Oficiais Livres formou-se em 1949. Nasser e seus companheiros, inspirados pelo patriotismo e sentimento de libertação do seu país formaram a organização para derrubar o regime do rei Faruk do Egito. Na noite de 22 de Julho de 1952 o Comitê dos Oficiais Livres dirigiu a tomada de poder que deu início a uma série de revoluções de significado semelhante no mundo árabe.
As grandes realizações de Gamal Nasser
Nasser desenvolveu a reforma agrária e sujeitou a atividade econômica ao Estado. Ele dirigiu pessoalmente as negociações com o Reino Unido para a retirada das tropas do Canal de Suez, concluídas mediante acordo em 19 de outubro de 1954 e para obter apoio nos projetos de desenvolvimento da Represa de Assuã, a primeira catarata do Rio Nilo, feita com o propósito de produzir eletricidade e aumentar a área agrícola.
Em princípio se dirigiu ao Banco Mundial, Estados Unidos e Reino Unido em busca de financiamento. As conversações começaram em 17 de outubro de 1955 com um mal-estar em Washington, pois em 27 de setembro anterior, Nasser reconheceu que a União Soviética e Tchecoslováquia haviam aceitado prover o Egito de material bélico, feito de grande significado, pois quebrava o monopólio armamentista do Ocidente. Em 20 de julho de 1956 o governo americano cancelou a oferta de ajuda, alegando que Nasser havia incluido os soviéticos na empresa, decisão que, favoreceu o governo britânico no dia seguinte. A tensão não repercutiu na retirada das tropas britânicas e em 18 de junho o último soldado inglês abandonou o Egito.
A resposta de Nasser ao boicote ocidental foi espetacular e provocou um terremoto internacional: em 26 de julho anunciou durante um discurso na cidade de Alexandria a nacionalização do Canal de Suez e a continuação do projeto da represa de Assuã sem os fundos solicitados. Nasser, quis dessa maneira, pressionar o Ocidente como meio de obter o financiamento da represa e ganhar a adesão entusiasta dos povos árabes, convertendo-se no campeão do emergente terceiro mundo. No entanto, sua ousadia teria sérias implicações econômicas, visto que França e Reino Unido eram os principais acionistas do Canal. Alarmados, os governos britânico e francês, negociaram secretamente com Israel um ataque contra o Egito para livrarem-se de Nasser, agora um inimigo comum. O complô militar ficou decidido em uma conferência em Sêvrés, no mês de outubro; o plano estabelecia que Israel invadiria o Sinai. As operações militares colocariam em risco a segurança do Canal, diante do que Londres e Paris pediram a Israel e Egito que cessassem as desavenças. Israel aceitou, ao contrário do Egito que viu na situação um pretexto para a intervenção franco-britânica dirigida a ocupar o Canal. A ofensiva israelense começou em 29 de outubro com um ataque surpresa que invadiu grande parte do Monte Sinai, chegando até as proximidades do Canal, na altura de Ismailia. No dia 30, Londres e Paris apresentaram seu ultimatum; o Egito por sua vez resistiu e no dia seguinte os aliados iniciaram os bombardeios no aeroporto egípcio e enviaram paraquedistas a Port Said e Ismailia, somando-se a Suez em 5 de novembro.
Nasser não tinha nenhuma possiblidade de derrotar militarmente os seus opositores, mas a indignação internacional e as pressões conjuntas dos Estados Unidos e Rússia para que cessassem as intervenções foram a seu favor. A ONU exigiu a retirada dos aliados e reconheceu a soberania egípcia sobre o Canal e em 06 de novembro houve o cessar fogo; em 22 de dezembro o corpo expedicionário franco-britânico deixou o Egito.
Nasser completou sua vitória no ano seguinte com a retirada de Israel do Sinai.
Os anos que sucederam à crise de Suez marcaram o apogeu do Egito nasserista e o fortalecimento da colaboração da antiga URSS. Forças políticas e movimentos militares tomaram o discurso pan-arabista e socialista em outros países da região.
Em 1958 o líder egípcio realizou uma viagem de três semanas pela União Soviética onde passou a tropa em revista, na Praça Vermelha, juntamente com o presidente N. Kruschev no desfile de 1º de maio. Em 1964 recebeu a maior condecoração da URSS, Herói da União Soviética, nunca dada a um estranjeiro. Ainda que as relações entre Egito e URSS tenham sofrido algumas estremecidas, o fato é que o Egito recebeu 43% de toda ajuda soviética para o terceitro mundo. Os dirigentes soviéticos perceberam que Nasser era absolutamente insubornável e o trato com ele deveria ser mais respeitoso que os aplicados aos líderes da Europa do Oeste.
No início da década de 60 Nasser acentuou a estatização e a socialização da economia, estendendo as nacionalizações às companhias de seguro nacional e indústrias e decretou uma segunda reforma agrária. Seu poder interno, que não era contestado pela eficiência dos resultados, se consolidou com a apresentação em 21 de março de 1962 de uma Carta Nacional que substituía a União Nacional pela União Socialista Árabe, constituída formalmente em 24 de setembro de 62, como partido único e que definia os princípios socialistas da República. Em 15 de março de 1963 sua presidência foi novamente votada em plebiscito. Nasser não havia perdido em nada seu prestígio no mundo árabe.
O Cairo e Alexandria foram cenários de numerosas conferências de estadistas que faziam um balanço dos avanços da União Árabe. Em 1964 a Organização para a Libertação da Palestina fixou sua primeira sede no Cairo e até a chegada de Yasser Arafat, Nasser manteve um importante controle e influência sobre um movimento que considerava instrumental na luta contra Israel e que não queria perder de vista seu nacionalismo particular. Em 13 de maio de 1964 Nasser obteve um grande êxito quando da inauguração da represa de Assuã, construída com ajuda soviética que entrou na questão em 1968.
Nos últimos anos de sua vida, Nasser adotou uma atitude muito mais suave em questões como os territórios ocupados. Em 1970 aceitou o Plano Rogers dos Estados Unidos que estabelecia um compromisso de aceitação da resolução 242 do Conselho de Seguridade da ONU, um cessar fogo no Canal durante 90 dias e sua eventual desmilitarização numa faixa de 20 km, assim como sua rabertura ao tráfego naval.
O último serviço de Nasser à nação egípcia foi a mediação no setembro negro jordaniano, a guerra civil entre o exército hachemita e os palestinos. Em setembro de 1970 conseguiu no Cairo, que o rei Hussein da Jordânia e Yasser Arafat firmassem um acordo e cessassem as hostilidades. Apesar de seu largo sorriso, gesto que sempre o acompanhou, Nasser estava adoentado e no dia seguinte faleceu de um ataque cardíaco. No dia 01 de outubro, aproximadamente vinte milhões de pessoas de todas as partes do Egito e mundo árabe participaram de seu funeral. Luto que foi mantido em muitos países do Oriente Próximo, África e o mundo islâmico em geral.
A Organização Revolucionária dos Oficiais Livres formou-se em 1949. Nasser e seus companheiros, inspirados pelo patriotismo e sentimento de libertação do seu país formaram a organização para derrubar o regime do rei Faruk do Egito. Na noite de 22 de Julho de 1952 o Comitê dos Oficiais Livres dirigiu a tomada de poder que deu início a uma série de revoluções de significado semelhante no mundo árabe.
As grandes realizações de Gamal Nasser
Nasser desenvolveu a reforma agrária e sujeitou a atividade econômica ao Estado. Ele dirigiu pessoalmente as negociações com o Reino Unido para a retirada das tropas do Canal de Suez, concluídas mediante acordo em 19 de outubro de 1954 e para obter apoio nos projetos de desenvolvimento da Represa de Assuã, a primeira catarata do Rio Nilo, feita com o propósito de produzir eletricidade e aumentar a área agrícola.
Em princípio se dirigiu ao Banco Mundial, Estados Unidos e Reino Unido em busca de financiamento. As conversações começaram em 17 de outubro de 1955 com um mal-estar em Washington, pois em 27 de setembro anterior, Nasser reconheceu que a União Soviética e Tchecoslováquia haviam aceitado prover o Egito de material bélico, feito de grande significado, pois quebrava o monopólio armamentista do Ocidente. Em 20 de julho de 1956 o governo americano cancelou a oferta de ajuda, alegando que Nasser havia incluido os soviéticos na empresa, decisão que, favoreceu o governo britânico no dia seguinte. A tensão não repercutiu na retirada das tropas britânicas e em 18 de junho o último soldado inglês abandonou o Egito.
A resposta de Nasser ao boicote ocidental foi espetacular e provocou um terremoto internacional: em 26 de julho anunciou durante um discurso na cidade de Alexandria a nacionalização do Canal de Suez e a continuação do projeto da represa de Assuã sem os fundos solicitados. Nasser, quis dessa maneira, pressionar o Ocidente como meio de obter o financiamento da represa e ganhar a adesão entusiasta dos povos árabes, convertendo-se no campeão do emergente terceiro mundo. No entanto, sua ousadia teria sérias implicações econômicas, visto que França e Reino Unido eram os principais acionistas do Canal. Alarmados, os governos britânico e francês, negociaram secretamente com Israel um ataque contra o Egito para livrarem-se de Nasser, agora um inimigo comum. O complô militar ficou decidido em uma conferência em Sêvrés, no mês de outubro; o plano estabelecia que Israel invadiria o Sinai. As operações militares colocariam em risco a segurança do Canal, diante do que Londres e Paris pediram a Israel e Egito que cessassem as desavenças. Israel aceitou, ao contrário do Egito que viu na situação um pretexto para a intervenção franco-britânica dirigida a ocupar o Canal. A ofensiva israelense começou em 29 de outubro com um ataque surpresa que invadiu grande parte do Monte Sinai, chegando até as proximidades do Canal, na altura de Ismailia. No dia 30, Londres e Paris apresentaram seu ultimatum; o Egito por sua vez resistiu e no dia seguinte os aliados iniciaram os bombardeios no aeroporto egípcio e enviaram paraquedistas a Port Said e Ismailia, somando-se a Suez em 5 de novembro.
Nasser não tinha nenhuma possiblidade de derrotar militarmente os seus opositores, mas a indignação internacional e as pressões conjuntas dos Estados Unidos e Rússia para que cessassem as intervenções foram a seu favor. A ONU exigiu a retirada dos aliados e reconheceu a soberania egípcia sobre o Canal e em 06 de novembro houve o cessar fogo; em 22 de dezembro o corpo expedicionário franco-britânico deixou o Egito.
Nasser completou sua vitória no ano seguinte com a retirada de Israel do Sinai.
Os anos que sucederam à crise de Suez marcaram o apogeu do Egito nasserista e o fortalecimento da colaboração da antiga URSS. Forças políticas e movimentos militares tomaram o discurso pan-arabista e socialista em outros países da região.
Em 1958 o líder egípcio realizou uma viagem de três semanas pela União Soviética onde passou a tropa em revista, na Praça Vermelha, juntamente com o presidente N. Kruschev no desfile de 1º de maio. Em 1964 recebeu a maior condecoração da URSS, Herói da União Soviética, nunca dada a um estranjeiro. Ainda que as relações entre Egito e URSS tenham sofrido algumas estremecidas, o fato é que o Egito recebeu 43% de toda ajuda soviética para o terceitro mundo. Os dirigentes soviéticos perceberam que Nasser era absolutamente insubornável e o trato com ele deveria ser mais respeitoso que os aplicados aos líderes da Europa do Oeste.
No início da década de 60 Nasser acentuou a estatização e a socialização da economia, estendendo as nacionalizações às companhias de seguro nacional e indústrias e decretou uma segunda reforma agrária. Seu poder interno, que não era contestado pela eficiência dos resultados, se consolidou com a apresentação em 21 de março de 1962 de uma Carta Nacional que substituía a União Nacional pela União Socialista Árabe, constituída formalmente em 24 de setembro de 62, como partido único e que definia os princípios socialistas da República. Em 15 de março de 1963 sua presidência foi novamente votada em plebiscito. Nasser não havia perdido em nada seu prestígio no mundo árabe.
O Cairo e Alexandria foram cenários de numerosas conferências de estadistas que faziam um balanço dos avanços da União Árabe. Em 1964 a Organização para a Libertação da Palestina fixou sua primeira sede no Cairo e até a chegada de Yasser Arafat, Nasser manteve um importante controle e influência sobre um movimento que considerava instrumental na luta contra Israel e que não queria perder de vista seu nacionalismo particular. Em 13 de maio de 1964 Nasser obteve um grande êxito quando da inauguração da represa de Assuã, construída com ajuda soviética que entrou na questão em 1968.
Nos últimos anos de sua vida, Nasser adotou uma atitude muito mais suave em questões como os territórios ocupados. Em 1970 aceitou o Plano Rogers dos Estados Unidos que estabelecia um compromisso de aceitação da resolução 242 do Conselho de Seguridade da ONU, um cessar fogo no Canal durante 90 dias e sua eventual desmilitarização numa faixa de 20 km, assim como sua rabertura ao tráfego naval.
O último serviço de Nasser à nação egípcia foi a mediação no setembro negro jordaniano, a guerra civil entre o exército hachemita e os palestinos. Em setembro de 1970 conseguiu no Cairo, que o rei Hussein da Jordânia e Yasser Arafat firmassem um acordo e cessassem as hostilidades. Apesar de seu largo sorriso, gesto que sempre o acompanhou, Nasser estava adoentado e no dia seguinte faleceu de um ataque cardíaco. No dia 01 de outubro, aproximadamente vinte milhões de pessoas de todas as partes do Egito e mundo árabe participaram de seu funeral. Luto que foi mantido em muitos países do Oriente Próximo, África e o mundo islâmico em geral.
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