segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Gaza. Uma flor do nosso sangue

Gaza. Uma flor do nosso sangue.
*Hanna Fares

Quem disse que o sangue não vencerá o carrasco? Ou melhor, quem disse que o olho não resiste ao furador?
Quem disse que hoje nós vivemos entre as décadas mais sofisticadas da civilização...que usufruimos de toda abundância e conhecimento?. Sim. Nós vivemos no século XXI, mas vivemos com dor e sem rumo; vivemos o retorno do homem à época selvagem, aliás, seremos injustos com os animais em suas selvas, nos seus esconderijos, nas suas andanças e caçadas...seremos injustos se compararmos o homem aos animais. Nós consideramos que esses estão abaixo dos homens...mas somos injustos porque até o mais selvagem dos animais ataca apenas quanto tem fome e, quando já satisfeito, é pacífico e manso.
Enquanto esses injustos, bárbaros, saídos do inferno, ou melhor, fabricantes do inferno primeiro para si mesmo e posteriormente para aqueles que lhes estendem as mãos ...que contaminaram a história através de sua existência, que tiveram investidas...mas até quando?
Será que essa máquina mortífera continuará a rodar e rodar e moer o homem, a árvore e a pedra, transformando o dia em noite e a noite em dia?
Os dias virarão e esta máquina da morte quebrará. Pedaços de corpos se levantarão de baixo das árvores, das pedras, dos cemitérios e ressurgirão dos olhos assustados, da pulsação cardíaca, da mistura de almas.
Porque este sangue derramado não vem do mar, não é bebida para que esses bárbaros se deliciem dela, mas sim, este sangue é a pureza em si, o perfume que se espalhará no espaço infinito. Este sangue que rega a terra de Gaza quando necessitou de água, este sangue derramado injustamente é a espada que lutará e resistirá. Este sangue é a promessa de que nascerá flores no campo, na terra de Gaza.
Enquanto esses bárbaros, no seu sumiço, na escuridão de suas cavernas, atrás dos enormes paredões blindados, atrás da humilhação em que vivem podem sim, cumprimentar as mãos que assassinaram o sorriso das crianças e aterrorizou os velhos e os deficientes, que destruiu as casas e as mesquitas, podem sim, usufruir do calor da humilhação e da vergonha, porque a história escreverá em suas páginas que eles foram fantoches que se mexeram apenas quando mandados.
Gaza é maior do que seu território e a imensidão de seu mar, é maior do que a sua ferida, mas altivo do que o topo de qualquer montanha. Seu mar é a praia de um poço e sua areia pulsa no coração de milhões. Gaza que nada entre dois tempos: o da penúria e do anseio pela liberdade; Gaza que nada contra a humilhação e o desalento; Gaza que escreverá nas páginas da história que no final do ano de 2008 a civilização assistiu de braços cruzados a sua honra ser massacrada. Gaza não é um corpo efêmero, não é a ferida passageira neste tempo. É sim a abertura da esperança e a visão da vitória que virá.
Nossas palavras serão insignificantes e suas letras sem cor, frias, mortas perante a grandeza de uma criança que tomba, perante o mártir que abraçará a sua terra para salvar a sua nação e a sua pátria e suas mãos levantarão o símbolo da vitória.
Gaza é a ferida na testa da humanidade e esse boçal que estraçalha os inocentes é apenas a prova da barbárie que empurra a humanidade à beira do precipício. Não há nenhuma força soberba que não pagará um alto preço. Então como será quando esta força está aliada à mentira e à trapaça? Esta é a época nociva, a época em que cabe o ditado “um reinado só existe no nome”.
Gaza é a flor de sangue e de fogo. Gaza é uma flor cujas folhas são o sangue derramado e os corpos despedaçados o seu perfume, que retornarão como luz e vitória eminente.

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