domingo, 4 de janeiro de 2009

Maomé humanizou a guerra

*Retirado da revista O Oriente – maio de 1957

Homens e mulheres, velhos e crianças, todos eram passados a fio da espada. Arrasavam-se cidades, reduzindo-as a ruínas e cinzas. Basta recordar-se do que narra a Bíblia. A destruição de Jericó é o exemplo mais típico. Ei-lo aqui como a narra a Bíblia, no capítulo 6º de Josué 21: ...e destruíram tudo o que a cidade tinha, homens e mulheres, moços e velhos, até os bois, as ovelhas e os asnos, a fio de espada. 24: e consumiram com fogo a cidade e tudo o que nela havia; somente pouparam para a casa de Jeovah, a prata, o ouro e os vasos de metal e ferro.
Depois dos hunos, sob o comando de Átila e Gengis Khan, Tamerlan e muitos outros não fizeram mais que seguir aquele exemplo bíblico.
Nos tempos atuais as bombas cairão dos aviões sobre as cidades e se produzirão precisamente os mesmos efeitos que na caída de Jericó. Matarão os homens e as mulheres, crianças e velhos e arrasarão as cidades.
O primeiro passo dado para atenuar o mais possível as consequências da guerra foi a disposição de que os vencedores, ao invés de executar os seus prisioneiros, os fizessem escravos, partindo do princípio de que tendo tendo direito sobre as vidas de seus inimigos, tinham o direito de fazer deles o que melhor lhes aprouvesse.
Não há a negar que os árabes foram os primeiros a humanizare as leis da guerra e que o primeiro homem a interceder a favor dos indefessos, a ordenar aos seus guerreiros para não matar os prisioneiros, não usar a perfídia e não envenenar a água dos poços foi Maomé. Quando o profeta decidiu a conquistar Damasco, no momento de partir as tropas da expedição, sob o comando de Abu-Bakr, Maomé acompanhou um trecho os seus soldados e, ao separar-se deles, ordenou que fizessem alto, para fazer-lhes a seguinte recomendação:
“Escutai bem as recomendações que lhes vou fazer: combatereis com franqueza e lealdade, não usareis da perfídia para com vossos inimigos, não mutilareis os feridos, respeitareis os velhos, as mulheres e as crianças; nãos destruireis as palmeiras (essas árvores provém, em grande quantidade, parte do alimento aos árabes); não incendiareis as choças nem matareis o gado, senão para as necessidades de vossa manutenção. Se encontrardes em vosso caminhos algum homem solitário consagrado à meditação (referia-se aos monges cristãos nos conventos) e à adoração do Senhor, não maltrateis”.
As mulheres faziam, como hoje, papel de enfermeiras. Recolhiam os feridos nos campos de batalha e curavam-lhe as feridas. Estas, mesmo quando excitassem os homens, deveriam ser respeitadas, tanto como os estropiados e os alienados. Segundo os mesmos princípios, a igual deferência, tinha direito os parlamentários. Não deveriam envenenar-se os mananciais e as fontes. Proibia-se a agir de má fé e não se consentia dar morte ao inimigo, cuja segurança era confiada ao Imán (chefe).
Em sua “História da França”, Michelet, no capítulo “Suleimán salvou a Europa”, disse: “Sob o domínio do Sultão Salim e dos outros sultões, especialmente sob o domínio de Suleimán, os turcos ensinaram aos outros povos a moderação na guerra e a humanidade na vitória. No ano 1520, duzentos mil soldados atravessaram todo o império por caminhos existentes, evitando os campos cultivados, sem tocar uma só planta”.
Os árabes conquistaram um império que se estendia da China até os Pirineus e ninguém pode dizer que houvesse cometido uma única vez, horrendos crimes de guerra. Isso, porém, não impede sejam eles acusados de bandidos cruéis, fanáticos e selvagens...por ter tido a ousadia de defender a sua terra contra a invasão estrangeira.


*Esse artigo nos foi gentilmente enviado pelo professor Elias Sallum, presidente de honra da Sociedade Beneficente Sírio Libanesa de Piracicaba e faz parte de seu arquivo pessoal.

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